A moda nunca é neutra: ela carrega mensagens, símbolos e posicionamentos, e no Brasil essa relação com a política é visível ao longo de toda a história. Desde a época colonial, a maneira de se vestir refletia hierarquias sociais e relações de poder, distinguindo brancos, negros escravizados e indígenas. Já no século XX, especialmente durante períodos de instabilidade política, a moda se tornou uma forma de expressão e resistência. Durante a ditadura militar, por exemplo, jovens ligados ao movimento hippie e aos festivais de música adotaram roupas coloridas, estampadas e soltas como sinal de contestação à rigidez do regime.

Nos anos 1980, com a redemocratização, a moda passou a dialogar ainda mais com a liberdade de expressão. O crescimento do rock brasileiro trouxe jaquetas de couro, jeans rasgados e camisetas estampadas com frases de protesto, transformando a roupa em instrumento de crítica social. Ao mesmo tempo, estilistas brasileiros começaram a propor coleções que questionavam padrões impostos, valorizando a identidade nacional em um momento de reconstrução democrática.

Mais recentemente, a relação entre moda e política ganhou novos contornos. Camisetas estampadas com frases de impacto, cores ligadas a movimentos sociais e o uso de símbolos específicos tornaram-se comuns em manifestações de rua. O verde e o amarelo, por exemplo, passaram a ser disputados como representação de patriotismo, gerando debates sobre apropriação e ressignificação das cores nacionais. Por outro lado, o movimento feminista no Brasil encontrou na moda uma de suas principais aliadas, com roupas, acessórios e campanhas que defendem igualdade de gênero e denunciam a violência contra a mulher.

A moda também se tornou palco para discussões sobre diversidade e representatividade. Desfiles que incluem modelos negros, indígenas, trans e de diferentes corpos não apenas rompem com padrões estéticos impostos, mas também afirmam a política do reconhecimento, questionando estruturas de exclusão. A própria indústria passou a ser cobrada por mais transparência e responsabilidade social, o que reflete uma politização crescente do consumo. Hoje, vestir uma peça não é apenas escolher um estilo, mas muitas vezes declarar uma posição diante de temas como racismo, desigualdade, meio ambiente e direitos humanos.

Assim, no Brasil, moda e política caminham lado a lado, influenciando-se mutuamente. Cada roupa usada em um protesto, cada coleção que valoriza a diversidade ou cada cor escolhida em uma campanha traz em si uma mensagem de poder. A moda brasileira, nesse sentido, não é apenas estética: ela é também resistência, identidade e instrumento de transformação social.