Adeus a Jane Birkin: ícone da música, moda e cinema

A inglesa mais amada de França, ícone pop e sensual dos anos 60, que se tornou conhecida na revolução da minissaia, e pela vida tumultuosa. Mas, acima de tudo, por aquele sussurro em “Je t’aime…moi non plus” – canção do cantor e compositor francês Serge Gainsbourg que, apesar de proibida em diversos países, se tornou um sucesso mundial – tornando Jane Birkin única e inesquecível.

Jane era tudo isso e muito mais, “uma artista completa. Sua voz era tão doce…”, lembrou o presidente francês. Emmanuel Macron.

Nascida em Londres, naturalizada francesa e musa de Serge Gainsbourg (nome artístico de Lucien Ginzburg, também ator, diretor, pintor e poeta), a cantora, compositora, atriz e ex-modelo natural de Londres, foi encontrada morta aos 76 anos na sua casa em Paris.
Há já algum tempo que se encontrava gravemente doente, de tal forma que foi obrigada a cancelar os seus concertos na primavera. A própria Jane Birkin o anunciou, explicando que “precisava de tempo” para regressar ao palco, perante o seu público. Tinha aparecido em público pela última vez em fevereiro – enfraquecida e com dores – durante a cerimônia do César, o Oscar francês. Ao seu lado, a filha Charlotte Gainsbourg e a neta Alice.

A atriz foi três vezes nomeada para os prêmios César: em 1985 por “La Pirate”, de Jacques Doillon; em 1987 por “La Femme de ma Vie”, de Régis Wargnier; e em 1992 por “La Belle Noiseuse”, de Jacques Rivette. Em 2007, o filme “Boxes”, dirigido por Jane Birkin e protagonizado por Geraldine Chaplin e Michel Piccoli, foi muito bem recebido pela crítica.
O sucesso planetário do dueto com Gainsbourg está cheio de implicações: a música havia sido escrita para Brigitte Bardot, que a interpretou primeiro. Mas na sequência de desentendimentos com a atriz francesa, Gainsbourg pediu à sua nova paixão, a jovem inglesa Jane Birkin, que a cantasse para ele no ano seguinte. Foi o que ela fez, com o sotaque ligeiramente britânico que enlouquecia os franceses, a voz uma oitava acima e os suspiros que levaram a canção ao primeiro lugar do Hit Parade britânico.

“É impensável viver num mundo sem a sua luz”, escreveu no Instagram uma das pessoas mais próximas dela, o cantor francês Étienne Daho, recordando essa e tantas outras atuações de Birkin.

No cinema, encantou desde Antonioni em “Blow up” (Palma de Ouro em Cannes em 1967) até “The Pool” ao lado de Romy Schneider e Alain Delon, em 1969. No cinema, participou em mais de 70 filmes, sendo dirigida por nomes como Jean-Luc Godard, Jacques Doillon, Jacques Rivette, Agnès Varda e James Ivory.
“Apesar das aparências”, disse Jane Birkin: “Tenho algo em mim que é infinitamente triste, um terrível sentimento de culpa que não me deixou desde pequena”. Mesmo o senso de modéstia e autoconsciência nunca a abandonaram, uma personagem mundialmente famosa que repetia que tinha o “instinto” de atriz, não o “talento”.

Nasceu em 1946 em Londres, o seu pai David Birkin era comandante da Marinha Britânica e homem da Resistência, casado com a atriz Judy Campbell. Jane, na sua vida amorosa agitada, teve três filhas. A primeira, Kate Barry, foi também a maior dor da sua vida: nasceu em 1967 do seu primeiro casamento com o famoso maestro e compositor John Barry (conhecido por ter composto várias trilhas dos filmes de James Bond). Jane tinha 19 anos e ele era 13 anos mais velho. Kate tornou-se fotógrafa, mas suicidou-se em 2013.

Ao chegar a França, tornou-se de imediato a paixão de Serge Gainsbourg, 15 anos mais velho, que acabara de ser deixado por Bardot: fusão total entre os dois, sucesso planetário e nascimento de Charlotte, em 1971, cantora e atriz, assim como a mãe. A relação cheia de altos e baixos com Gainsbourg desfez-se em 1980, quando Jane o deixou, cansada de sua vida selvagem, alcoolismo e repetidas traições, com alguns episódios violentos. Durante 13 anos, Jane foi então companheira do diretor Lou Doillon, com quem teve a sua última filha, Lou, em 1982.

Ainda por curiosidade, Jane Birkin usava, nos anos 70, uma cesta de mão de Castro Marim, Algarve. Em 1983, o diretor da marca de luxo HermèsJean-Louis Dumas, sentou-se ao lado de Birkin num voo de Paris para Londres. Birkin colocou a sua cesta no compartimento superior do assento e o conteúdo caiu ao chão. Birkin explicou a Dumas que tinha sido difícil encontrar uma bolsa em couro que gostasse. No ano seguinte, este criou uma bolsa preta em couro especialmente para ela: a Birkin, que se tornou muito conhecida, e disponível a preços entre os 10 mil e 500 mil dólares.