Além de dificultar diagnósticos de saúde, lacuna histórica em estudos sobre pele e cabelos da população negra prejudica desenvolvimento de fórmulas específicas.
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha, em parceria com a divisão de Beleza Dermatológica do Grupo L’Oréal no Brasil e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), apontou que 58% dos brasileiros negros nunca se consultaram com um médico dermatologista. Entre os brancos o índice é de 42%.
“Esses números refletem uma combinação de fatores estruturais. A dimensão socioeconômica é uma delas: sabemos que parte da população negra – que representa 56% dos brasileiros – enfrenta barreiras maiores de acesso a serviços de saúde especializados. Soma-se a isso o fato de que, por muito tempo, a dermatologia e a comunicação em saúde não contemplaram nossa diversidade de peles, o que faz com que muitas pessoas negras não se reconheçam nesses espaços e não se sintam acolhidas. Outro ponto é o mito de que a pele negra seria ‘naturalmente mais resistente’ e, portanto, não necessitaria de cuidados dermatológicos”, afirma Eduardo Paiva, diretor de diversidade, equidade e inclusão do Grupo L’Oréal no Brasil.
A pesquisa também revelou que que 44% dos dermatologistas brasileiros se sentem pouco ou parcialmente preparados para diagnosticar e tratar adequadamente todos os tons de pele e tipos de cabelo. Para contribuir com a mudança desse cenário, a divisão de Beleza Dermatológica do Grupo criou o Prêmio “Dermatologia + Inclusiva”. A premiação, que está em sua 2ª edição e tem inscrições abertas até 4 de dezembro de 2025, visa ampliar a pesquisa e o conhecimento sobre pele e cabelos de pessoas não brancas.
Informação científica para um olhar mais inclusivo e equitativo
“A ciência da pele e dos cabelos precisa refletir a diversidade real da sociedade brasileira. Historicamente, vemos falhas importantes no conhecimento sobre as especificidades da pele e cabelo de pessoas negras. Nosso objetivo é estimular pesquisas que preencham essas lacunas e ampliem o acesso a informações científicas de qualidade para que médicos, cientistas, a população e a indústria de beleza possam se beneficiar de um olhar mais inclusivo e equitativo”, comenta Paiva.
Rosangela Silva fundou há quase uma década a marca Negra Rosa, especializada em beleza negra, e diz que ainda temos desafios importantes a enfrentar. “Por muitos anos, houve poucos estudos voltados para pele negra. Isso dificulta o diagnóstico de problemas de saúde e o desenvolvimento de produtos específicos. Um exemplo claro é o protetor solar: a maioria das pesquisas leva em conta apenas peles claras. Estamos longe de ter um estudo aprofundado de como o protetor solar realmente funciona em tons de pele mais escuros. É fundamental ampliar a produção científica nesse campo e, assim, ter mais conhecimento e soluções adequadas para a população negra.”
Para a CEO, há muito o que conquistar nesse mercado, mas ela fala em evolução, especialmente na última década. “Negra Rosa é um exemplo desse crescimento. Começamos com foco em maquiagem e hoje tempos quase 100 produtos lançados. Nosso portfólio quase duplicou nos últimos dois anos, entrando e acelerando categorias como haircare, skincare e suncare.”
Portfólio que dialoga com a realidade dos consumidores brasileiros
A Raavi Dermocosméticos também vem investindo em diversidade. A marca, que já contava com o Hidratante Corporal Raavi para Pele Negra, acaba de lançar o Creme Hidratante Facial Uniformizador 7 em 1, produto que se destaca por sua atenção especial às características da pele negra, segundo a gerente de marketing Gláucia Rotta. “Nosso propósito é construir um portfólio cada vez mais inclusivo, que dialogue com a realidade dos consumidores brasileiros.”
Para ela, o desenvolvimento de produtos para a pele negra tende a crescer cada vez mais. “O aumento de estudos científicos traz embasamento técnico para fórmulas realmente eficazes, que atendam às particularidades desse público. Isso fortalece a confiança da indústria em criar linhas direcionadas, ao mesmo tempo em que responde a uma demanda crescente por diversidade e inclusão no mercado de beleza.”
Por isso, segundo Cristina Garcia, diretora de comunicação científica e pesquisa avançada da L’Oréal Brasil, estudos incentivados pelo Prêmio “Dermatologia + Inclusiva” podem ter impacto na indústria de cosméticos no Brasil. “É uma resposta importante a uma lacuna histórica na pesquisa científica, que tem focado desproporcionalmente em peles e cabelos de origem europeia e norte-americana. Ao se voltar para pesquisas que abrangem pluralidade, a indústria será capaz de desenvolver produtos que atendam às necessidades específicas de cada biótipo, com formulações mais precisas para peles e cabelos que, muitas vezes, são sub-representados nas pesquisas globais.”
