O grupo francês de luxo Kering, que atravessa um período de desafios, está próximo de vender sua divisão de beleza — avaliada em cerca de US$ 4 bilhões — para a gigante global de cosméticos L’Oréal, segundo o Wall Street Journal.

Contatada pela AFP, a Kering não quis se pronunciar. A L’Oréal, até o momento, não respondeu.

O diário financeiro americano relata que o acordo pode ser anunciado já na próxima semana, caso as negociações não fracassem nem surja um novo concorrente.

A notícia surge apenas um mês após a nomeação do novo CEO da Kering, Luca de Meo, de 58 anos, que enfrenta o desafio de revitalizar o grupo, afetado há anos pelo desempenho abaixo do esperado de sua principal marca, a Gucci.

“A situação atual (…) fortalece nossa determinação de agir sem demora”, declarou Luca de Meo no dia de sua nomeação, 9 de setembro. “Isso exigirá escolhas claras e decisivas”, alertou. “Devemos continuar a reduzir nossa dívida, reduzir nossos custos. E, quando necessário, racionalizar, reorganizar e reposicionar algumas de nossas marcas”, disse de Meo.

A joia da Creed

A venda da divisão de beleza — criada em 2023 para diversificar as fontes de receita e que inclui a marca de perfumes Creed, adquirida no mesmo ano por 3,5 bilhões de euros — representaria um passo importante para o novo CEO.

A Kering Beauté foi concebida para acelerar o desenvolvimento de marcas como Bottega VenetaBalenciagaAlexander McQueenPomellato e Qeelin no segmento de cosméticos. O grupo também investiu na grife de fragrâncias de nicho Matières Premières.

No entanto, os perfumes e cosméticos das duas principais casas de moda da Kering continuam licenciados para outras empresas.

A licença para os perfumes e cosméticos Yves Saint Laurent é detida pela L’Oréal há vários anos e por “muito, muito, muito tempo”, disse o CEO do grupo, Nicolas Hieronimus, à AFP em fevereiro de 2023. A licença para fragrâncias e cosméticos da Gucci é detida pela empresa americana Coty e deve expirar nos próximos anos.

“Suspeitamos que todas as opções estão sendo consideradas, visto que, além da Creed — que é altamente lucrativa — os outros ativos, incluindo Bottega Veneta, Balenciaga e outras fragrâncias, atualmente representam apenas contribuições marginais”, escreveram analistas do HSBC em nota de meados de setembro. Eles acrescentaram que a Kering poderia “ampliar sua colaboração com a Coty ou escolher um parceiro mais dinâmico para sua marca principal, a Gucci”.

Redução da dívida

A venda integral da divisão de beleza poderia ajudar a Kering a reduzir sua dívida, que era de 9,5 bilhões de euros em julho.

O grupo, pressionado pelas dificuldades enfrentadas por sua principal marca, a Gucci, e pela desaceleração do mercado global de luxo, continua a atravessar um período desafiador. Em julho, a Kering reportou uma queda de 46% no lucro líquido do primeiro semestre, para 474 milhões de euros, além de uma retração de 16% na receita, que totalizou 7,6 bilhões de euros.