Afetado por crises geopolíticas e pelo endurecimento das relações econômicas mundiais, o ano de 2025 marca o início da transformação da indústria da moda. É este o quadro traçado por um estudo da Lectra, a empresa de soluções técnicas para os desafios industriais, utilizando análises da sua ferramenta de inteligência de mercado baseada em IA, Retviews.
O primeiro fato notável deste estudo soa como uma pequena revolução: pela primeira vez desde 2010, o mercado deverá ser dominado por marcas fora do setor do luxo. Com efeito, os intervenientes neste setor enfrentam o cansaço dos clientes e o abrandamento das suas vendas em todo o mundo, mormente nos Estados Unidos. Em janeiro último, McKinsey estimava que as tarifas de importação americanas poderiam reduzir as despesas dos consumidores nos Estados Unidos de 46 a 78 bilhões de dólares por ano.
A valorização da oferta ao consumidor
Por outro lado, as grandes marcas de moda tendem a valorizar os seus produtos, apostando em uma oferta de topo de gama para se salvarem do avanço dos operadores de fast fashion. O estudo da Retviews mostra que, na Europa, estas marcas de moda de consumo oferecem agora produtos com preços superiores a 25 euros e estão reduzindo o número de artigos vendidos nas faixas de preços mais baixas. O estudo destaca a marca de fast fashion Zara, que está aumentando o número de produtos com preços superiores a 34 euros, e a Uniqlo, que está aumentando o número de artigos vendidos nas faixas de preços de 17-34 euros e 76-85 euros.
Na Europa, os preços médios passam de 38 euros em 2023 para 42 euros em 2025. Esta estratégia de subida de gama também se verifica do outro lado do Atlântico, ainda de acordo com o estudo da Retviews. Nos Estados Unidos, os preços médios passam de 57 dólares em 2023 para 64 dólares em 2025. Além disso, a União Europeia enfrenta um aumento de 15% das tarifas aduaneiras, de acordo com as últimas declarações.
Um acompanhamento mais atento do mercado é essencial para o sucesso
“A otimização dos sortidos, o aumento das vendas diretas e um acompanhamento mais atento do mercado serão essenciais para o sucesso num ambiente tão incerto”, afirma Antonella Capelli, presidente da região EMEA da Lectra. Estas alavancas já estão a ser utilizadas pelos grandes vencedores no início de 2025, as marcas de consumo.
Além disso,alguns destes operadores do mercado de massas estão aperfeiçoando as suas estratégias de descontos e a afastar-se de um simples sistema de vendas sazonais, afirma a Lectra. A Uniqlo, por exemplo, adota uma estratégia de preços baixos ao longo de todo o ano, o que lhe permite fazer rodar rapidamente as suas coleções e preservar a imagem e a percepção da marca.
O sucesso das marcas de consumo já está a trazer mudanças nas estratégias de preços de certas categorias de produtos da moda, em comparação com 2024. As vendas de artigos de couro não luxuosos, como as bolsas (+20% entre 1 de janeiro e 1 de maio de 2024 e entre 1 de janeiro e 1 de maio de 2025) e os pequenos artigos de couro (+23%) estão registrando um crescimento significativo. Estes produtos, juntamente com o vestuário esportivo de entrada e as T-shirts, estão impulsionando a indústria da moda.
