No sábado, em Milão, se viu a aparição de “O Diabo que veste Prada” na Dolce & Gabbana, uma estreia ousada e poderosa de Louise Trotter na Bottega Veneta e uma visão organizada na Ferrari.

Na sua primeira coleção para a Bottega Veneta, a designer britânica Louise Trotter devolveu à marca o conceito de “bottega” – ou ateliê –, com uma proposta que muitas vezes tinha o aspecto e a aura de alta-costura.
O desfile era um dos mais aguardados de toda a temporada, por várias razões. A BV é uma das três grandes casas do conglomerado de luxo Kering – juntamente com a Gucci e a Balenciaga – que estreiam um novo designer este mês.

Acabou por ser um desfile poderoso, com um branding de impacto por parte de Trotter, que integrou o material de assinatura da casa, o intreccio – ou couro entrançado – em quase todos os looks. Trotter chegou a usar o intreccio no convite da Bottega Veneta: um quadrado de couro tratado com várias linhas recortadas que, ao pressionar, se transformava num engenhoso saco de cordões em couro.
Trotter declarou: “Este foi um trabalho coletivo da nossa equipa. Demorei o meu tempo, e continuo a fazê-lo, uma vez que se trata de uma casa tão grande. Há uma vontade de ir mais além e continuar a criar, o que é extraordinário.” 
Trotter até escolheu o mesmo local do desfile do seu antecessor, Matthieu Blazy, que dentro de dez dias fará a sua estreia na Chanel. Convidou os presentes para um armazém degradado no sul de Milão e abriu o desfile com looks em pele ultraleves: gabardinas, capas e blazers para eles; vestidos de ombros descobertos, habilmente drapeados, e vestidos com painéis para elas. Tudo detalhado com intreccio — golas, mangas, lapelas, remates e cintos entrançados.

Com grande domínio de alfaiataria, Louise deu novo fôlego a casacos de trespasse exuberantes, cortados com ombros muito largos e cinturas bem rebaixadas — usados com batas de cirurgião de gola alta. Cinematográfico, eduardiano e a melhor nova alfaiataria da temporada.

A maioria do elenco trazia malas maleáveis: versões messenger macias, totes com armação encurvada ou clutches oversized dobradas. Suaves, funcionais e chiques.
Depois, o desfile acelerou a fundo com vestidos hiperexperimentais que ondulavam como campos de milho ou juncos à passagem. Na verdade, eram feitos de milhares de tiras de vidro reciclado cosidas à mão, numa referência ao vidro veneziano.

“Eu sei que parecia Tencel, mas não era”, sorriu Trotter, que também aproveitou para aligeirar o logótipo da Bottega Veneta com um novo tipo de letra. A mais recente atualização de uma marca de luxo verdadeiramente única, que celebrará o seu 60.º aniversário no próximo ano.

Nascida em Sunderland, no norte de Inglaterra, Trotter chegou à BV com um currículo altamente impressionante. Depois de passagens iniciais por Nova Iorque, na Calvin Klein e na Tommy Hilfiger, tornou-se diretora criativa de JosephLacoste e Carven — obtendo consistentemente críticas positivas em cada casa. Ainda assim, o desfile de sábado em Milão foi o seu maior desafio até agora. É com satisfação que podemos dizer que Louise Trotter agarrou a oportunidade com ambas as mãos. Foi um desfile e uma coleção de sucesso.

Nada resume melhor o novo clima atrevido que atualmente paira sobre Milão do que a coleção de sábado da Dolce & Gabbana, ou melhor, Boudoir & Gabbana.